Brasileiro valoriza mais casa própria do que filhos, religião e estabilidade
A busca pelo sonho da casa própria é uma das maiores prioridades do brasileiro. Mais do que criar filhos, seguir uma religião ou até mesmo ter estabilidade financeira, ter um imóvel no próprio nome ainda é considerado um símbolo máximo de conquista e sucesso pessoal no Brasil.
Essa valorização cultural ultrapassa gerações e contextos econômicos, e continua sendo um desejo latente mesmo em tempos de alta nos juros, desemprego ou recessão. Mas o que faz o brasileiro colocar a casa própria no topo da lista de prioridades, muitas vezes acima de aspectos fundamentais da vida?
Neste artigo, vamos entender por que o imóvel próprio é mais valorizado do que filhos, religião e estabilidade financeira, segundo pesquisas, e o que isso revela sobre o comportamento e as crenças do povo brasileiro.
Casa própria: símbolo de vitória e segurança
Durante décadas, a casa própria foi vista como o grande troféu da classe média brasileira. Representava:
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Segurança para a família;
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Independência de aluguel;
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Patrimônio acumulado;
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Status social;
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Estabilidade para o futuro.
Essa mentalidade foi reforçada historicamente por políticas públicas, como o Minha Casa Minha Vida e, mais recentemente, o Casa Verde e Amarela, que incentivaram o financiamento de imóveis para milhões de brasileiros.
Além disso, a cultura popular, novelas e até conselhos familiares sempre repetiram: “pague sua casa primeiro”, o que consolidou essa ideia como prioridade máxima.
Pesquisas mostram mudança de valores no Brasil
De acordo com um estudo do Instituto Locomotiva, realizado com mais de 2.000 brasileiros em diferentes regiões do país, 73% dos entrevistados consideram a casa própria mais importante do que ter filhos.
Outros dados apontam que:
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68% colocam o imóvel acima da religião;
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65% valorizam mais o imóvel do que a estabilidade no emprego ou nas finanças;
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Apenas 27% acreditam que criar filhos é mais relevante do que conquistar a casa própria.
Esses números revelam uma mudança de comportamento importante: o brasileiro médio quer conquistar seu espaço no mundo antes de assumir compromissos maiores, como formar família ou seguir uma crença religiosa com profundidade.
O medo do aluguel e da instabilidade
Mesmo com alternativas modernas de moradia e mobilidade, muitos brasileiros ainda veem o aluguel como:
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Dinheiro jogado fora;
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Insegurança (por não ter controle do imóvel);
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Instabilidade (possibilidade de despejo ou reajustes abusivos);
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Falta de herança para os filhos.
Esse medo, muitas vezes exagerado, leva muitas famílias a comprometer boa parte da renda com financiamentos de longo prazo, mesmo antes de ter uma reserva de emergência ou planejamento adequado.
O peso emocional da conquista
Para muitos brasileiros, a casa própria representa mais do que um bem material. Ela é o resultado de anos de esforço, renúncias e trabalho duro. Ter um imóvel para chamar de seu é, para muitos, o equivalente a dizer: “venci na vida”.
Essa ligação emocional cria uma motivação forte para:
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Financiar imóveis mesmo com altas taxas de juros;
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Sacrificar outras áreas da vida em troca da posse;
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Trabalhar em empregos que não gostam, apenas para pagar a prestação.
Ou seja, o imóvel torna-se um marco de identidade e sucesso pessoal.
Filhos, religião e estabilidade: por que foram deixados de lado?
Filhos: menos prioridade na era moderna
Com o alto custo de vida, a urbanização crescente e a necessidade de independência, ter filhos deixou de ser uma prioridade imediata para muitas famílias. Além disso:
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Educação, saúde e moradia para filhos exigem planejamento;
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Jovens adultos preferem estabilidade e patrimônio antes de pensar em filhos;
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O mercado de trabalho exige mais mobilidade e menos vínculos familiares.
Religião: mudança no perfil da fé
O Brasil continua sendo um país religioso, mas cada vez mais a religiosidade se torna pessoal e menos institucional. Isso faz com que a fé ainda seja importante, mas não necessariamente esteja no topo da lista de prioridades materiais.
Estabilidade: um conceito em transformação
A estabilidade financeira e no emprego, antes valorizada, vem perdendo força diante de um mundo mais volátil, com mudanças constantes e novas formas de trabalho (como o empreendedorismo e o trabalho remoto).
Com isso, muitos preferem garantir algo tangível — como um imóvel — do que depender de um mercado instável.
Essa inversão de valores aponta para um cenário econômico e social em transformação. O desejo pela casa própria continua forte, mas pode gerar efeitos colaterais como:
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Endividamento precoce e falta de liquidez;
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Adiamento de planos importantes (como ter filhos ou investir);
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Prioridades desbalanceadas, que impactam a qualidade de vida.
Por outro lado, o apego ao imóvel mostra que o brasileiro busca segurança em meio à instabilidade, o que é natural em um país com histórico de crises econômicas e políticas.
É hora de repensar essa lógica?
Ter casa própria não é um erro — pelo contrário, é uma conquista relevante. Mas especialistas em finanças pessoais alertam: é preciso equilibrar os objetivos de vida.
Antes de financiar um imóvel:
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Verifique sua capacidade real de pagamento;
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Considere o impacto no orçamento familiar;
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Avalie se a localização e o tipo de imóvel fazem sentido a longo prazo;
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Pense também em mobilidade, liberdade e liquidez.
Mais do que ter, é preciso viver
O brasileiro valoriza a casa própria porque ela representa mais do que um teto — é o símbolo de vitória pessoal. No entanto, ao colocá-la acima de filhos, religião ou estabilidade, corre-se o risco de transformar um sonho em prisão.
É hora de redefinir o que significa vencer na vida: não apenas ter, mas viver com equilíbrio, qualidade e propósito.